Monday, October 17, 2011

Austeridade!

"As vítimas do sacrifício e do espírito de sacrifício têm dele uma ideia muito diferente da dos espectadores; mas nunca lhes foi dada a palavra." – Nietzsche, Friedrich

O exercício da política é, para o comum dos cidadãos, algo que se faz de tempos a tempos, com dia marcado e com escolhas previamente definidas por aqueles que se colocam à disposição destes para esse mesmo exercício de forma permanente.
O cidadão tem três formas de efectuar as suas escolhas: pela negativa; pela positiva; pela negativa e positiva.
Escolhe pela negativa quando o seu único objectivo é castigar quem mentiu quanto às políticas que se propôs apresentar, quando se sente mal tratado pela forma como está a ser executado o mandato político e pela manifesta falta de rumo dos políticos.
Escolhe pela positiva quando encontra ideias e políticas propostas que, caso sejam seguidas, proporcionarão uma vida ainda melhor aos cidadãos.
Escolhe pela positiva e pela negativa quando todos estes factores se encontram reunidos.
O que me parece estranho e incompreensível, por parte da acção dos políticos, é que nenhum deles percebeu, até hoje, que não foram escolhidos para dizer aos cidadãos que, mesmo temporariamente, vão transformar as suas vidas em algo pior. E não quero saber se a desculpa é o desconhecimento da realidade ou a alteração das condições gerais de governação, pois convenhamos que as condições para uma boa governação alteram-se, na maioria das vezes, no momento em que o último cidadão fez o seu exercício casuístico da política!
Todos os anos a revista International Living publica uma lista dos países com melhor e pior qualidade de vida e, pela percepção que tenho, nenhum português almeja um nível de vida equivalente ao dos vinte piores que, só para citar alguns, são países como a Somália, o Iémen, a Serra Leoa, a Eritréia, entre outros. A verdade é que, legitimamente, todos os portugueses almejam ter um nível de vida semelhante ao que se verifica na Suécia, Noruega, Dinamarca, Austrália, Finlândia, Canadá ou outros que poderia enumerar.
O que nos dizem, relativamente à pretensão de viver melhor, é que somos pouco produtivos, que não geramos riqueza e que temos um estado cheio de gorduras.
A produtividade dos portugueses é, na minha opinião, a maior das falácias deste país, pois, como sabemos, a produtividade é algo que se mede pelo resultado económico do trabalho, pela riqueza financeira que é gerada pelo produto do trabalhador. Se eu vivo num país em que os seus empresários, coitadinhos, auferem os mais baixos salários relativamente aos seus congéneres europeus (não confundir salários com fortunas) e se vivo num país com as empresas mais pobres e descapitalizadas da Europa, é certo que, no que concerne ao produto do trabalho, este é medido como o mais baixo da Europa. No entanto, meus caros amigos, vivo num país onde o rácio de venda de artigos de luxo é ao nível dos melhores da Europa…que paradoxo!
É muito raro encontrar em Portugal um empresário com salário superior a três mil euros por mês, então, como será possível este senhor ter um carro de cem mil e uma casa meio milhão? Por certo, quem tem estes artigos de luxo não os vende, empresta-os aos amigos!
Não sou apologista do conceito “todos iguais”, sou apologista da verdade dos rendimentos, do contributo diferenciado para o bem comum e de uma distribuição da riqueza equilibrada e que permita a todos uma vida.
No que concerne às gorduras do estado, todos apregoam que essas gorduras são as pessoas! Pessoas que, numa lógica de egoísmo e inveja nacional, são uns privilegiados, já que o seu emprego é para a vida! Pois, mas já não é e podem ser despedidos (não vou explicar como). No entanto, se as gorduras do estado são as pessoas e tendo em conta que todos os portugueses querem um nível de vida igual ao dos vinte melhores países, talvez consigam explicar como é que, nesses países, a percentagem do emprego público em relação ao emprego total é superior à de Portugal e com mais rendimentos. Só a título de exemplo, 31% dos Dinamarqueses trabalham no estado, 22.5% dos Austríacos, 21,5% dos Canadianos, 23,8% dos Finlandeses, 24,6% dos Franceses, 31% dos Noruegueses, 32,7% dos Suecos e poderia continuar a enumerar. Esqueci-me de dizer que 18,4% dos portugueses trabalham no estado.
O que posso concluir é que o nosso estado tem “gordura”, mas esta não está nas pessoas.
Quando, numa lógica de sectarismo, se suprime os subsídios aos trabalhadores da administração pública, percebo que não se estenda a medida ao resto da nação, pois provocaria uma diminuição de IRS o que causaria de imediato alguma falta de alimento a um estado “gordo”. Mas, numa perspectiva de unidade nacional, não seria lógico que aquele dinheiro que serve para que um país tenha as empresas mais pobres da Europa e os empresários com maiores fortunas (percentualmente) fosse usado para contribuir, já que esse, ao não se saber da sua existência, não contribui para porcaria nenhuma a não ser para garantir o “empréstimo amigo” do carro de cem mil euros e da casa de meio milhão?
Não posso deixar de ficar perplexo quando um governante, com as maiores responsabilidades, numa comparação negativa (tipicamente nacional) vem dizer que a medida é sectária porque os trabalhadores da administração pública (deve ter excluído os da administração local!) ganham, em média, mais dez a quinze por cento do que os do sector privado. Devemos, em primeiro lugar, realçar o rigor da afirmação, pois dez ou quinze por cento, é, mais ou menos, a mesma coisa.
Quando alguém compara, pela negativa os cidadãos de um país quer, com toda a certeza, que todos fiquem iguais aos piores e que os piores fiquem cada vez pior, para que, na generalidade, possamos um dia afirmar que o que de facto os portugueses sempre almejaram foi um nível de vida igual ao dos vinte piores países!

Emanuel Oliveira

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